Sábado, 1º de outubro, é de comemoração pela passagem do Dia Internacional da Terceira Idade e da criação, há oito anos, do Estatuto destinado a regular os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 anos. Mesmo com os avanços, muito ainda se tem a conquistar, conforme aponta a presidente do Conselho Estadual do Idoso, Lúcia de Fátima Maia, a respeito do próprio fato de que, dos 167 municípios do Rio Grande do Norte, só 51, incluindo Natal, possui Conselho Municipal do Idoso, que tem a obrigação de zelar pelo cumprimento dos direitos dos idosos. Lúcia de Fátima Maia diz que ainda existe deficiência quanto a acessibilidade, porque as "barreiras arquitetônicas ainda são muitas". Ela explica que, mesmo sem ter data definida, serão feitos cursos de capacitação com os conselheiros municipais para que possam cumprir melhor o Estatuto do Idoso: "As leis existem, mas é preciso que sejam postas em prática e a sociedade tem que cobrar o cumprimento", declarou.
Ela disse que, em meados de setembro, foi realizada a 3ª Conferência Estadual de Saúde, dando sequência as de 2006 e 2008, quando a questão do idoso foi considerada uma prioridade na área de saúde -, como preparatória para a 3ª Conferência Nacional do Idoso, a ocorrer em novembro, em Brasília, na qual participarão 14 delegados do Estado, sendo cinco indicados pelo poder público e nove por entidades não governamentais. Lúcia Maia ainda informou que no RN ainda existe uma deficiência muito grande das chamadas ILPIs, Instituições de Longa Permanência para Idosos, pois só existem 18, das quais seis estão em Natal. A promotora de Defesa da Pessoa Idosa, Iadya Gama Maio, chegou a dizer no meio da semana, numa audiência pública na Câmara Municipal de Natal (CMN), que o número de abrigos, todos mantidos por instituições filantrópicas, já não atende a demanda da cidade, por isso, ela acha necessário que o próprio poder público promova a criação de um centro-dia, ou seja, "um local onde a pessoa da terceira idade possa realizar atividades de lazer e socialização".
População com mais de 65 anos cresce 35% na década
A pertinente preocupação com a melhoria da qualidade de vida dos idosos, também se deve ao envelhecimento da população do Rio Grande do Norte, que acompanha o processo que também vem ocorrendo no país.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), o Censo de 2010 apontou que, em dez anos, a população do Estado cresceu 12%. No entanto, na faixa populacional de até 19 anos, houve uma redução de 9% na população potiguar. Proporcionalmente à população do Estado, os dados também mostraram que o número de pessoa com 80 anos ou mais de idade cresceu 50%, enquanto a população com 65 anos ou mais aumentou em 35%.
Os dados do IBGE indicam que com esse ritmo diferente de crescimento pirâmide etária está se estreitando na base, com queda na fecundidade. Por outro lado o topo da pirâmide vai se ampliando, com uma população idosa cada vez maior e com pessoas em idade avançada com números cada vez maiores.
Responsável pelo Setor de Disseminação da Informação do IBGE, Ivanilton Passos de Oliveira, explicou que a quantidade de idosos (60 anos ou mais) em 2000 era 250.954 e representava (9,02%) da população total do Estado; em 2010 tivemos um aumento na população de idosos em relação ao censo anterior (2000) de aproximadamente (60,72%), igual a 403.342 habitantes , que passaram a representar (12,73%) da população total do Estado.
"Justifica-se pela redução na taxa de fecundidade total e por outro lado, no aumento da esperança de vida ao nascer", acrescentou.
Vida social ativa é o grande segredo para velhice saudável O geriatra Antônio Carlos Barbosa diz que muitas são as pesquisas em torno do envelhecimento e sobre a forma de como as pessoas devem conviver com isso. O foco dessas pesquisas é o povo oriental, como numa ilha do Japão, onde já constatou que, independente da alimentação saudável e da prática de exercícios, o que os idosos têm é uma vida social diferente dos padrões ocidentais.
No caso, diz o geriatra Antônio Barbosa, o isolamento social é um fator que leva o idoso à demência com mais rapidez. Afora isso, ele considera importante para uma velhice saudável, se fazer uma alimentação equilibrada e exercícios físicos adequados mantêm o organismo ativo e ajudam a prevenir doenças.
Segundo Barbosa, a própria velhice é fator de risco de mortalidade, quanto mais idade a pessoa, maior o maior o risco. Porém, uma pessoa que cultiva hábitos saudáveis pode "acrescentar vida aos anos e não anos à vida".
Barbosa disse que "a partir dos 65 anos é mais comum o idoso desenvolver algumas doenças, as mais recorrentes são as doenças da memória, as cardíacas e ortopédicas. "Todas elas podem causar um grande impacto na vida do idoso, mas se essas doenças estiverem controladas e medicadas não afetarão de forma significativa a qualidade de vida do idoso", afirma o geriatra.
Contudo, finalizou ele, o mais importante que tudo isso "é a integralização das pessoas, a conversa, o contato com as outras pessoas".
Voluntariado
Uma vez, e sempre na última quarta-feira do mês é assim: 800 idosos da capital e da Grande Natal reúnem-se para um dia de lazer no complexo do sistema Sest/Senat, na avenida Omar O'Grady, no San Vale. "A gente participa com a sessão da área e a Federação Nacional dos Transportes (Fetronor), empresários e prefeituras entram com o transporte dos idosos", dia Oficial de Administrativo Patrícia Dantas Aguiar. Vem idosos de bairros como Felipe Camarão, Mãe Luiza, Parque dos Coqueiros e dos municípios de Parnamirim, São Gonçalo do Amarante e São José do Mipibu. Mas, tudo começou há uns nove anos, com o apoio de pessoas ligadas à Pastoral do Idoso da Igreja Católica, como conta uma voluntária, Maria de Jesus de Costa, 84 anos. "A gente se reúne de fevereiro a novembro, e temos dois meses de folga, dezembro e janeiro, porque tem as festas de fim de ano, férias, e não vem ninguém", disse ela. Todo o evento é feito por voluntários. No dia da confraternização, alguns idosos levam peças de artesanato para a venda, um bingo a R$ é vendido entre eles para pagar uma pequena banda musical, com tecladista e baterista. O almoço eles também pagam, a um preço simbólico de R$ 6,00 na própria cantina do SestSenat. Um desses freqüentadores assíduos é o aposentado João Miguel Neto, 69 anos, que emigrou unas 50 anos de Portalegre, na região Oeste, para Natal e não perde um forró. "Ninguém me acha na porta, porque estou dentro do forró'.
Pé de valsa convicto, Miguel Neto stenta relógios e pulseiras reluzentes. Vestuário à caráter para a festa, camisa de manga comprida, chapéu de massa e gravata, ele diz que tem mulher, no Cidade Satélite, mas não perde um forró: "Danço desde menino".
Trabalho social leva alegria Até pouco tempo tratados como abrigos, as atuais Instituições de Longa Permanência de Idosos (ILPIs) tem exercido um papel importante para melhorar a qualidade de vida de pessoas com idade acima de 60 anos. Uma delas é o Espaço Solidário, um centro de convivência que acabou de fazer dez anos de atuação, criado em agosto de 2001, em Mãe Luíza, pelo falecido padre Sabino Gentilli, inspirado pela situação de solidão, sofrimento e abandono dos idosos.
Por lá, passam diariamente 20 idosos que permanecem o dia ou participam de atividades durante a semana, característica da chamada "Casa Dia". Além disso, contam-se os 24 idosos moradores, que têm acesso ações de fisioterapia, terapia ocupacional, piscina e massagem. O gerenciamento do Espaço Solidário é responsabilidade do Centro Sócio-Pastoral Nossa Senhora da Conceição da Paróquia de Mãe Luiza. O padre Robério Camilo da Silva - que responde pelo projeto - diz que a capacidade do Espaço Solidário está no limite.
ALEGRIA
Apesar das dificuldades, o Espaço Solidário é uma alegria só. Seu José Alves de Faria, 74 anos, é um dos 24 moradores permanentes da Casa. Ele veio do Alecrim, onde morava sozinho. Alves disse que a sua família, agora, "é todo esse povo aqui", lembrando que depois da aposentadoria ficou "muito abatido e sozinho", e que sua vida melhorou no Centro Social. Dona Maria Emília do Nascimento, 81 anos, é uma 'ativista' em trânsito e das mais animadas do Espaço Solidário, vem de casa com o marido, que sofre do Mal de Parkinson. Como ele não dança mais, diz que dança com os amigos da casa: "Teve forró, tô dentro, eu gosto".
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